Lidia cozinha do coração do México

Poucas pessoas conhecem o poder da comida de unir as pessoas melhor do que a chef Lidia Bastianich. Através de seus aclamados restaurantes, livros de receitas best-sellers e programas de sucesso na PBS, ela compartilhou seu legado italiano com milhões ao longo de uma carreira culinária que começou quando ela tinha 14 anos.

Quando você conhece a Lidia, a primeira coisa que percebe é que a presença calorosa e extrovertida que faz com que milhões de pessoas de todas as origens se sintam como parte de sua “familia” ampliada não é um ato; é quem ela é de verdade. E, como alguém que chegou aos Estados Unidos como refugiada em 1958, ela está sempre procurando oportunidades para retribuir suas bênçãos, ajudando outras crianças desfavorecidas a realizar seus sonhos mais ousados.

Foi esse impulso que a levou a começar a apoiar a Smile Train em 2008.

“Tenho filhos e venho de uma pequena vila na Itália. Então entendo a dor que pode existir em uma família, em uma criança, quando são ostracizados, quando são excluídos em uma comunidade unida”, ela explicou. “Quando ouvi pela primeira vez que crianças com fissura labiopalatina passam por isso, pensei: como não posso mudar a vida de alguém por tão pouco dinheiro? E então eu fiz.”

Em 2025, após 50 anos no ramo de restaurantes, Lidia decidiu sair da pressão de uma cozinha profissional para se concentrar no que “realmente importa” para ela. Em sua lista estão escrever mais livros e, acima de tudo, dedicar mais tempo às suas instituições de caridade favoritas.

Foi assim que ela se viu na sala de cirurgia de um hospital parceiro da Smile Train em Toluca, no México, em maio, assistindo a um bebê de três meses passar pela cirurgia de fissura labiopalatina que transformaria sua vida para sempre.

Como os sorrisos são feitos

Ao contrário de outras organizações que enviam médicos estrangeiros para realizar cirurgias de fissura por uma ou duas semanas e depois partem, a Smile Train financia, equipa e treina profissionais de saúde locais em todo o mundo para oferecer, 24 horas por dia, cuidados seguros, de alta qualidade e em tempo hábil para fissura labiopalatina a seus vizinhos necessitados. É assim que patrocinamos mais de 2 milhões de cirurgias de fissura—mais do que todas as outras instituições juntas em pouco mais de 25 anos. O Hospital para el Niño do Estado de México, em Toluca, é um de nossos parceiros de destaque desde que a Smile Train ali patrocinou sua primeira cirurgia em 2007. Eles realizam regularmente mais de 300 cirurgias de correção de fissura labiopalatina por ano, além de outros tratamentos essenciais — desde nutrição e suporte alimentar pré-cirúrgicos até terapia fonoaudiológica e ortodontia pós-cirúrgicas — tudo possível graças à generosidade dos doadores da Smile Train.

Muito do crédito pelo sucesso do hospital pode ser atribuído à visão e devoção de uma mulher: a Dra. María Luiza López Salgado, que pessoalmente realizou quase 2.000 cirurgias patrocinadas pela Smile Train em crianças locais necessitadas.

Inclusive o procedimento que Lidia presenciou no México.

Línguas universais

Embora venham de mundos diferentes, ao observar os movimentos rápidos porém precisos, delicados porém confiantes das mãos da Dra. Salgado, a chef Lidia imediatamente sentiu uma afinidade com ela.

Mas isso não foi o que mais a impressionou.

“Acho-a extraordinária”, disse Lidia. “Ela não apenas executou seu trabalho de cirurgiã com maestria, mas a forma como ela se aproximou da criança desde o início foi única. Ela esteve presente em cada etapa, além da operação… Após a cirurgia que presenciei, ela explicava à mãe como massagear o lábio do bebê. É incansável em seu ensino e orientação, mostrando o caminho certo para essas mães e crianças.”

Após a cirurgia, Lidia foi conduzida a uma sala com crianças pacientes da Smile Train usando pequenos chapéus de chef que haviam decorado com suas próprias mãos. Talvez não soubessem quem era Lidia, mas entenderam que uma grande chef viera de Nova York para cozinhar com elas, e as crianças estavam radiantes pela oportunidade de aprender.

E Lidia estava tão ansiosa quanto para aprender com eles.

Lidia fala espanhol e o usou para se aproximar de cada uma das cerca de duas dezenas de crianças presentes. Seu interesse era tão genuíno e sua empatia tão autêntica que, ao final, até mesmo as mais tímidas compartilhavam histórias sobre o quanto adoram ajudar na cozinha ou cozinhar com suas avós.

Em seguida, com a plateia encantada, ela se posicionou atrás de uma banca de comida e ensinou seus novos amigos a preparar um “Sanduíche Lidia” especial para o almoço.

“Uma coisa que aprendi nesta viagem é o quanto ter uma fissura labiopalatina pode afetar a alimentação de uma criança, pois muitas vezes ela não consegue se fixar ao seio da mãe ao nascer e acaba desenvolvendo vários outros problemas a partir daí, então as famílias precisam ter muito cuidado com o que oferecem de alimento aos seus filhos”, disse ela. “E, já que isso varia em cada cultura, é fundamental que os parceiros da Smile Train vivam onde seus pacientes vivem, para que possam ajudar com sensibilidade.”

Uma panela, uma frigideira e uma tigela

Na manhã seguinte, Lidia e a Dra. Salgado saíram cedo para encontrar uma família na feira local e comprar ingredientes frescos para um grande café da manhã tradicional mexicano. A família guiou o caminho, enquanto Lidia ouvia e aprendia. Essa família tem duas filhas com fissura labiopalatina, ambas pacientes da Smile Train: Dalia, 18 anos, e Norma, 11.

Enquanto a família selecionava frutas, verduras e carne de porco, Dalia ficou para trás, aparentemente querendo evitar o fotógrafo local que registrava a viagem. 

De volta à casa delas, a mãe e a avó de Dalia ensinaram a Lidia como as mulheres da família vêm fazendo tortillas há gerações.

“Avós. Vocês sabem o quanto eu as amo, e a vovó foi fenomenal”, disse Lidia.

Dalia manteve a guarda levantada no início, mas à medida que cozinharam, sua história veio à tona: ela havia passado por uma cirurgia de correção de fissura labiopalatina de baixa qualidade quando bebê, o melhor que sua família pôde pagar, e muitas vezes era intimidada por sua aparência. Mesmo depois que a família conheceu a Smile Train quando ela tinha nove anos e a Dra. Salgado corrigiu a cirurgia anterior, o assédio continuou. Ela sempre se sentiu diferente, como se ninguém sem fissura pudesse compreendê-la. Sentia-se até alienada de sua irmã, que, tendo recebido uma cirurgia patrocinada pela Smile Train com um ano de idade, nunca conhecerá as dificuldades que ela viveu.

Mas quando o primeiro lote de tortillas saiu quente do forno, Dalia abraçava Lidia. Durante a conversa, descobriu-se que ela nunca tinha visto uma foto sua de bebê, antes da cirurgia de fissura labiopalatina. E nunca quis ver.

“Você quer ver uma agora?”, perguntou a Dra. Salgado.

Ela quis, e desabou em lágrimas ao ver a foto. Depois perguntou se podia ficar com ela.

“A comida é um grande elo de ligação. A comida derruba barreiras. Foi simplesmente incrível a transformação que ocorreu em apenas uma hora”, disse Lidia. “Espero que Dalia siga em frente, conquiste todos os seus objetivos e se torne alguém que transforma a vida das pessoas. Tenho certeza de que ela vai realizar seu sonho de se tornar médica.”

Ela acrescentou: “Isso mostra como a Smile Train e seus parceiros locais estão inseridos na vida das comunidades, interferindo no dia a dia de seus pacientes e se envolvendo em seus problemas, tentando apenas ajudar essas crianças, uma a uma, a terem a oportunidade de uma vida melhor.”

Do Filho Brilhante ao Sol Criativo

Depois disso, Lidia foi conhecer Emiliano, um bebê de sete meses cheio de energia, que tinha passado pela sua primeira cirurgia de fissura labiopalatina apenas alguns meses antes.

Sua família está determinada a garantir que esse sorriso contagiante nunca desapareça do seu rosto. E graças aos doadores da Smile Train, seu futuro promete ser tão radiante quanto seu sorriso gengival.

Depois de passar um tempo com Emiliano e as mulheres que o criam, Lidia visitou uma das atrações mais emblemáticas de Toluca, o Cosmovitral — um jardim botânico coberto com enormes vitrais que retratam a relação da humanidade com a natureza.

O segredo da chef

Uma viagem de dois dias pode não parecer significativa em uma vida tão longa, rica e realizada como a de Lidia. No entanto, ela tem certeza de que o que aprendeu nessas 48 horas sobre fissuras labiopalatinas, família, resiliência e as vidas que seus presentes à Smile Train transformam completamente ficará com ela para sempre.

“Eu sabia que ver essas crianças me tocaria de verdade, e foi além das minhas expectativas… Quando voltei para casa, ver que isso funciona me satisfez de uma forma estranha. Muitas vezes, quando você doa para uma grande instituição, se pergunta: será que realmente chega até a criança?

“Esta viagem me deu fé, porque vi que, nesta organização, as pessoas não se juntam apenas por um emprego, elas se unem por um compromisso, por paixão e por um senso de humanismo. Eu vi isso em médicos como a Dra. Salgado, mas também nas famílias e, com tanta frequência, nas comunidades, como elas se unem para apoiar seus filhos.”

Reunir pessoas é o que Lidia sempre fez de melhor. E seja ao redor de uma mesa em um de seus restaurantes de classe mundial ou em uma casinha em Toluca, sua receita para uma vida gratificante é sempre a mesma: não importa a quantidade de sal na água do macarrão ou o jeito de picar o alho, mas sim os sorrisos que você cria ao longo do caminho.